Mais que o salário e a empregabilidade, é o lado humano que seduz Leonor Buescu na área das artes. Esta jovem profissional quer continuar a aprender fazendo perguntas, e a construir um percurso que a torne melhor pessoa e lhe dê a felicidade que procura.
Nome: Leonor Buescu
Empresa e Atividade: Assistente de Conservação no MUDE – Museu do Design e da Moda
Formação: Licenciatura em História da Arte e Mestranda em Estudos de Teatro na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FLUL)
Que atividade(s) profissional(is) desempenha atualmente?
Neste momento estou a trabalhar como assistente do Departamento de Design de Produto do MUDE – Museu do Design e da Moda, em Lisboa. Comecei o meu trabalho elaborando fichas de inventário das peças que estão no acervo do museu, e nestas últimas semanas comecei a ter mais responsabilidades, dando apoio à montagem de exposições e estabelecendo também contacto com potenciais doadores de obras de arte.
Quando terminou a sua formação superior, imaginava ser a profissional que é hoje? Porquê?
De todo. Quando me inscrevi na licenciatura em História da Arte o que procurava era sobretudo um curso que me desse algumas noções básicas em estudos artísticos. No final do Ensino Secundário não tinha uma ideia concreta da área que queria seguir, e apesar dessa hesitação me ter provocado ansiedade, hoje reconheço que a riqueza cultural da minha licenciatura foi uma mais-valia.
Acho que no caso das ciências humanas ou das artes – menosprezadas na sociedade em que vivemos, que valoriza sobretudo o lucro e a produtividade – essa abertura de perspetivas é um ponto crucial para a formação individual. Ainda não tenho certezas quanto à minha carreira, mas hoje sei que, num mundo tão volátil, o que importa acima de tudo para mim é o prazer de estudar, de aprender, de fazer.
De acordo com a sua experiência, o que é que é mais importante aproveitar/reter numa licenciatura, tendo em conta o profissional que se quer ser no futuro?
Eu diria que, acima de tudo, devemos abrir as nossas próprias fronteiras e aprender com os outros, conversando e – muito importante – fazendo perguntas. Ter dúvidas é ótimo, e aprendemos muito mais ao questionar e discutir. Tive a sorte de ter bons professores na universidade que, para além de grandes pedagogos, se revelaram grandes colegas da vida. Ouvi-los é uma lição e uma preparação para as minhas experiências profissionais e pessoais futuras.
“No caso das ciências humanas ou das artes, a abertura de perspetivas é um ponto crucial para a formação individual. O que importa acima de tudo é o prazer de estudar, de aprender, de fazer.”
E o que é que é mais importante na transição da universidade para o mercado de trabalho?
A preparação teórica como uma ferramenta valiosa para a experiência prática. A responsabilidade, o empenho e a comunicação são fatores que considero indispensáveis para a independência e sobrevivência num mercado de trabalho muitas vezes sem rosto.
Que papel atribui à sua formação superior para hoje ser uma boa profissional? De que forma é que a preparou?
A universidade enquanto espaço de formação que disponibiliza bases teóricas é um bom laboratório para qualquer área profissional que se queira seguir. Acima de tudo, a minha formação superior abriu-me as portas ao conhecimento e afastou limitações. Deu-me espaço para conhecer autores e ideias diversas, e para descobrir novas perspetivas de pensamento. Preparou-me a ser mais humana – menos absoluta.
E o que é que não se aprende no curso que o trabalho e a vida acabam por ensinar? O que vão os jovens encontrar no mundo profissional?
A prática. Em teorias universitárias tudo parece ter uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão – mas o quotidiano é muito mais caótico do que qualquer coisa que se possa estudar nos livros. O que digo parece um lugar-comum, mas é inacreditável a quantidade de stress profissional que se pode acumular num dia, entre o que há para fazer, o que se faz, e o que ficou por fazer – e, no meio de tudo isto, os erros. Mas também os sucessos.
O que se descobre no mundo profissional? Que nada é por acaso – é preciso estar presente.
Que conselhos pode dar aos jovens que estejam indecisos na escolha desta área de formação?
Por muito que nos convençam de que existem áreas “com saída”, isso é pura e simplesmente um mito urbano. Acabaram-se os empregos para a vida, acabaram-se as carreiras certas e prolongadas. O que me faz mais impressão é conhecer quem escolhe seguir uma área por questões salariais, quem se inscreve num curso que apregoa ter “99% de empregabilidade”. É mentira, é marketing.
Parece-me que o que importa, hoje mais do que nunca, é estudar o que nos interessa, algo que nos puxe a sermos indivíduos melhores, que nos ajude a sermos felizes. Podem acusar-me de lirismo, mas de dissabores já está o mundo cheio. Não há necessidade que o meu percurso profissional seja mais um.
[Foto: cedida pela entrevistada]
Esta entrevista é parte integrante do Guia de Acesso ao Ensino Superior 2017/18 da Mais Educativa, disponível para consulta aqui.